Never
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Autor: Delmo Fonseca
ISBN: 978-85-67521-01-5
Formato: 13x20cm
Gênero: Poesia
Selo: Mar de Letras
Ano: 2013

Resenha:
Conheci este autor recentemente, fui ao lançamento de seu livro onde Delmo Fonseca fez uma bela dedicatória para mim em que ele fala para nunca me faltar a inspiração. Realmente, neste livro “Never”, o autor é inspirado. Platão, em Íon, diz que o poeta é tomado por um deus. Delmo Fonseca é arrebatado pela própria realidade, que se descortina perante seus olhos. E é sobre ver o mundo que a poesia de Delmo Fonseca se debruça. É rica a semântica do poeta, que faz um aproveitamento das palavras semelhantes, usando suas repartições, fragmentações, acréscimos e decréscimos. Utiliza constantes jogos de linguagem, brincando com o leitor, dando um novo dimensionamento ao espaço lúdico do literário: “fiz dois versos/fiquei prosa”. A poesia visual também é trabalhada: no verso em que a palavra escorre, temos o aproveitamento de uma palavra em outra, seu crescimento e sua diluição. O ritmo e a musicalidade também são trabalhados, com rimas e outros mecanismos de repetição, como na página 33 em que rima balão com outra palavra. Pois como disse Emil Staiger em sua análise sobre os gêneros, o lírico é “recordare”, trazer de novo ao coração. Além dessa musicalidade, há o aproveitamento da mesma palavra, dando uma ressignificação ao termo, como em “tudo novo/de novo.” Há também utilização de elipses, com o ocultamento de uma letra, o “r”, em “vede a montanha/verde”, como se este deslindamento ocultasse o segredo que a natureza esconde. Na página 19, temos uma gradação que cresce e decresce, poetizando as coisas para o ser e depois coisificando, como uma rica ironia ao vil metal. O objetivo de tal gradação é mostrar os movimentos múltiplos da vida com o olhar arguto do autor. Nos versos, “no sul, neve/ no sertão, never”, temos uma referência a Guimarães Rosa com seu nonada, vazio, pois o “nunca” aqui mostra o encerramento das possibilidades no impossível frente ao vazio que se mostra na imagem do branco da neve. Tudo é possível no terreno da poesia, parece o poema dizer. As constantes repartições/bipartições das palavras só fazem enriquecer o vocabulário amplo do poeta que diz: “a lua me nina/ a lua menina”. Isto demonstra a própria reconstrução do real que a literatura faz através da palavra, pois como disse Wolfgang Iser, o texto literário mostra o “como se fosse a realidade”. Há também poemas reflexivos, na sua via filosófica, criando paradoxos ricos, como no poema, na página 45, em que temos: “de um e de outro.” Este “um/outro” nos revela o paradoxo da vida, onde encontramos a “harmonia dos contrários", tão bem pensada pelos pré-socráticos. Na página 49, temos a não-linearidade da vida como o autor bem descreve visualmente pelos versos que se dissolvem obliquamente no branco da página, com “desalinho”, o real é um “novelo”. Não apresenta uma ordem estabelecida, mas demonstra a imagem do caos, em que os múltiplos significados vão se aderindo, como uma polissemia poética deixa entrever. A via metalinguística também aparece no poema da página 65: “o pé da letra” no “chão da palavra”, imprimindo os significados das letras nas coisas do mundo, a “representatividade das coisas” é patente em sua poesia. Na página 73, “pois o que vemos perto está longe”, constata a analogia entre coisas díspares, que encanta o leitor ao revelar a realidade que se apresenta fragmentária, mas, ao mesmo tempo, total em suas múltiplas faces. A filosofia do poema, na página 77 nos faz refletir sobre a realidade da vida a partir de interrogações e repetições. A repetição “quem” e “lembra” reforça a memória, pois lembrar é trazer a verdade para nós e seus poemas são cheios de revelações. Segundo Platão, verdade significa “alétheia”, “não esquecimento”. Finalizando este pequeno texto sobre Delmo Fonseca, posso dizer, que sua poesia me encantou no que ela tem de mais filosófica, metalinguística, polissêmica e bela. Parabéns pelos poemas ricos em significações.

Alexandra Vieira de Almeida - Doutora e em Literatura Comparada (UERJ).