ISBN 978-85-67521-04-6
Formato: 15x20cm
108 páginas
Categoria: Poesia
Ano: 2014
por Adriana Lisboa:
Proponho que se leia o Pedro com um jeito Pedro de ler: lavrando e deslavrando o seu Despalavrar. O poeta músico a quem tanto atrai, a quem muito distrai, traz, na ponta da língua e dos dedos, pedras de João Cabral e rosas de Gertrude Stein (um amor é um amor é um amor: ressemantizaremos, assim, o mundo?). Pedro, pedreiro e penseiro, lembra: há que se manter o foco em riste. Há que se correr riscos em letras analfabetas, em sons que vibram nos silêncios. Que outra matéria-prima conhece o músico? O poeta?
Quem sabe, porém, quantas despalavras darão conta do mundo à volta, escuro (e vivo). Comecemos com a náusea, com o tudo que nos entontece, propõe o Pedro. Agarremos as coisas com os dentes, façamos a autópsia de cada um dos nossos sentidos. Fitemos, analfabetos, nosso alfabeto nos olhos. O lixo do nosso luxo, o ego do nosso desapego. Há que se ter a dor. Há que se ter ardor. Depois tratemos de encontrar milagres em papéis de guardanapo. Ainda muito é possível. Basta, por exemplo, um amor. Um ninho, uma tarde, uma cordinha de bonde. Basta a glória de estar cem por cento vivo.
Viva, Pedro! Despalavrar é preciso.